No último sábado de Janeiro fui ao Teatro Sá da Bandeira ver uma revista cujo titulo era bastante sugestivo “ Ai povo... que os pariu”. Titulo sedutor, expectativa de companhia de teatro nova e a mais valia de uma revista à portuguesa criada “à moda do Porto”.
E gostei. Ri até não poder mais (e tanto precisava) mas não fui capaz de bater as madames à minha frente que até partiram a cadeira... se bem que já bem podres (as cadeiras claro
... e que pena aquele Teatro estar assim desleixado), e também não fui capaz de bater na velha que estava na fila de trás cheia de pudor (obviamente hipócrita pois bastava olhar para ela).
E gostei. Ri até não poder mais (e tanto precisava) mas não fui capaz de bater as madames à minha frente que até partiram a cadeira... se bem que já bem podres (as cadeiras claro

Mas isso nem seria motivo suficiente para me levar a fazer um blog... embora saiba que essa companhia vai andar por aí e merecem os divulgue (paguei bilhete, logo a vontade de divulgação é mesmo verdadeira). Só que, e por pura coincidência, “esbarrei” hoje com um daqueles emails da praxe que se reenviam a tudo quanto está nas mailings lists e na altura quis guardar com o titulo “foda-se”. Ora, sendo generalista mas respeitando as respectivas excepções, estas interjeições que nós nortenhos dizemos em vez das que estão na gramática, e os sulistas não dizem nem confessam gostar de ouvir... mas eu sei que gostam, voltaram-me a colocar um daqueles sorrisos só com meia boca e uma boa disposição que, por via do estado deste país inteiro à beira de um ataque de nervos me coloca também sisudo, já me apetecia sentir. E por isso partilho convosco.
Sobre a revista, procurem na Net, bem como a imensa biografia do autor (Millôr Fernandes). O texto deixo aqui para quem for preguiçoso. Espero é que a “velha” do teatro não seja moderadora disto e me bloqueie o perfil.
Foda-se - por Millôr Fernandes
(adaptado para português europeu... vulgo nortenho)
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que diz.
Existe algo mais libertador do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a
ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!", e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho de um pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...).
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu
correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação"vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida e a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem a carta de condução e ouves a sirene da polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes?
"Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que nada funciona, o desemprego aumenta avassaladoramente, os impostos são altos, a saúde, a educação e a justiça são de baixa qualidade, os politicos podres, os empresários gananciosos e que procuram o lucro atropelando os valores mais elementares, as reformas têm que baixar, o tempo para a
desejada reforma tem que aumentar … tu pensas:
“Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere. Este país ainda vai ser...
“um País do caralho!”
Olhe para o que lhe digo!
Sobre a revista, procurem na Net, bem como a imensa biografia do autor (Millôr Fernandes). O texto deixo aqui para quem for preguiçoso. Espero é que a “velha” do teatro não seja moderadora disto e me bloqueie o perfil.
Foda-se - por Millôr Fernandes
(adaptado para português europeu... vulgo nortenho)
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que diz.
Existe algo mais libertador do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então, foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a
ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão matemática.
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!", e tão pouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades de maior interesse na tua vida.
Aquele filho de um pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema, e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...).
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu
correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua maravilhosa e reforçadora derivação"vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida e a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando estás a sem documentos do carro, sem a carta de condução e ouves a sirene da polícia atrás de ti a mandar-te parar. O que dizes?
"Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que nada funciona, o desemprego aumenta avassaladoramente, os impostos são altos, a saúde, a educação e a justiça são de baixa qualidade, os politicos podres, os empresários gananciosos e que procuram o lucro atropelando os valores mais elementares, as reformas têm que baixar, o tempo para a
desejada reforma tem que aumentar … tu pensas:
“Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere. Este país ainda vai ser...
“um País do caralho!”
Olhe para o que lhe digo!