quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Revoltem-se...

Ontem, no telejornal da RTP1, depois de mais uma noticia sobre a catástrofe que assolou a Madeira, a RTP informou que decidiu criar uma linha de solidariedade "Juntos pela Madeira!" e que quem quiser contribuir pode ligar para o número 760 10 11 12 cujo custo é de 60 cêntimos mais IVA, e que desse valor, 50 cêntimos serão encaminhados para ajudar à reconstrução da Madeira.
Nada de novo nisto pois este tipo de chamadas abundam em tudo desde a solidariedade a concursos e passatempos, é uma situação “dejá vu”, e até já escrevi sobre sobre estas temáticas, denunciando oportunismos, vaidades e o empobrecimento dos valores humanos.
Então porque volto de novo ao tema?
Porque este oportunismo hediondo e porque disfarçado de solidariedade, me faz ferver o sangue nas veias e me gera um instinto de revolta cada vez maior. Mais, porque vem de uma instituição pública e que por tal deveria ter cuidados e responsabilidades acrescidas nas iniciativas que toma.
Se aos outros canais privados até se poderia tolerar estes devaneios egoistas porque precisam de sobreviver, ao canal público é que não. Já basta termos que aturar a publicidade que nos impõe e ao mesmo tempo pagar quer em taxa (na nossa factura de electricidade) quer em orçamento de estado tapando o seu chorudo e sempre deficitário orçamento.
Mas afinal do que estou eu a falar?
Simples, e como no post anterior, mais uma vez de contas... mas não só, também de camuflagem e tentativa de engano aos mais incautos.
Atentem nisto...
A chamada custa 60 cêntimos mais IVA, e só 50 cêntimos são apoio solidário. Pergunto: Para quem são os 10 cêntimos? Que pagam eles? Como se repartem?
É que 10 cêntimos é muito dinheiro. Mais do que custa uma chamada de um minuto nas operadoras mais económicas, e o processo nem sequer implica meios humanos, atendimento etc. É tudo automático e o sistema pode processar milhares por minuto a quase custo zero, daí que é praticamente tudo lucro. A titulo exemplificativo - num milhão de chamadas esses 10 cêntimos produzem 100 000 euros de facturação. Muito dinheiro, não é?
Mas não é tudo. Deixem-me falar de outro roubo descarado - o IVA - à taxa normal de 20 %... pois claro.
E mais, a taxa não é aplicada sobre os 10 cêntimos mas sim sobre os 60 cêntimos, o que dá 12 cêntimos. Pagar IVA por uma contribuição solidária é demais. Aplicando o mesmo exemplo, num milhão de chamadas, só de IVA são 120 000 Euros.
Porque é que o Estado não isenta de IVA estas iniciatavas de solidariedade quando ao mesmo tempo aplica taxas reduzidas de IRC aos Bancos por via da crise?
Já estão a começar a ferver como eu... e eu entendo. Pagamos 72 cêntimos e só 50 é que são solidariedade.
Mais, enganam-nos com o subterfugio de nos dizerem o preço sem IVA e assim nos induzem em erro sobre quanto vamos pagar – é como os preços a terminar em 99cêntimos. Não sei se é obrigatório, mas a norma de apresentação dos preços ao público é com IVA incluído. Nunca vi a indicação de por exemplo – café 50 cêntimos mais IVA para informar que custa 60 cêntimos.
Dito isto, apetece-me denunciar esta “fraude”, “atentado aos valores morais e éticos” e porque não “roubo” - mas bem pior do que aqueles que fazem de arma apontada. Aí estamos indefesos e somos impotentes para e o evitar, mas nesta situação não – somos enganados com apelos ao instinto solidário e bem carismático dos Portugueses, e esperam nem reparemos.
Por falar em “ser Português”, é algo que preciso de re-equacionar, pois quando ouvia noticias de catastrofes como a mais recente no Haiti a falarem de que no meio da desgraça havia quem roubasse, eu achava que em Portugal nunca tal poderia acontecer, mas afinal, da Madeira também ouvi as mesmas noticias.
Com tudo isto e porque já é demais, temos que denunciar e desmascarar estas acções disfarçadas de gestos bem intencionados, e que pelo uso e abuso acabam por nos tornar um Povo desconfiado, fechado e empedernido. E nós Portugueses não somos assim, só alguns o são, cada vez mais se deixarmos, ou cada vez menos se os impedirmos... e temos de impedir nem que seja com revolta.
Eu estou revoltado - muito revoltado.