quarta-feira, 23 de março de 2011

Vitimas ou culpados?

No dia 16-03-2011, depois das Noticias das 20, o programa "histórias do mundo", intitulou-se “Juventude Inquieta: excessos das “Skin Parties” estão a espalhar-se pela Europa”, e é sobre ele que vou dissertar.
Eis o link para ver:
http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/historias-do-mundo/2011/3/juventude-inquieta-excessos-das-skin-parties-estao-a-espalhar-se-pela-europa16-03-2011-223436.htm
E enquanto estiver disponível, claro.
Pois bem, a juventude está mesmo na ordem do dia - à rasca, inquieta, incerta e tantas mais adjectivações que poderia encontrar. E todas teriam cabimento e seriam verdade se houvesse uma assunção sedimentada na razoabilidade sobre o entendimento de si mesmos e sustentada numa postura consciente, mas, muito sinceramente, não acho terem. Usando uma frase feita, há mais gente para além deles, e nenhuma das tres ou quatro gerações com quem coabitam este momento tão critico, está/é hermética em relação a si mesmos.
Por consequência todos fazemos parte desta massa humana e global que procura no horizonte um futuro seguro e promissor, e só em uníssono esse futuro poderá ter lugar. Mas, se por um lado há uma sensação separatista entre as gerações, por outro lado todas estão vinculadas pelas causas, razões e culpas.
Voltando à reportagem, apesar de achar que é um tanto ou quanto exagerada e de uma realidade que (ainda) não é bem a nossa mas que cá chegará depressa, e basta atentar no jeito especial que temos em importar estas coisas mais prazerosas, é verdade o que nela transparece, e que muitos jovens se comportam dessa maneira. Alguns mesmo, uma minoria – ainda – reclamam direitos, euros e meios afins para sustentar hábitos irresponsáveis e degradantes a todos os níveis tanto comportamentais como relacionais e de valores que (ainda) regem o saber ser/estar da nossa sociedade - e o principal -, o respeito por si mesmos e por consequência pelos outros. É degradante a forma como banalizam aquilo que nos poucos momentos de lucidez ou quando confrontados os envergonha.
E confrontar – a eles e a todos nós - é meditar nestas frases extraídas da reportagem.

- A regra é não haver limites nas restrições
- Num mundo que vive de imagem as poses são obrigatórias
- Uma geração que cresceu com computadores e telemóveis na mão
- Pessoalmente não me sinto eu, sinto-me uma espécie de caricatura de um jovem completamente decadente... excessivo.
- Penso que eles ultrapassam os limites do álcool e do comportamento e isso preocupa-me um bocadinho
- Espero que saibam comportar-se e que não façam sei lá o quê
- Embora elas sejam sempre um pouco mais ousadas
- Se alguém considera um exagero não é seguramente este pai que até admira os disfarces
- Um pouco o principio de “sexo, drogas e rock'n roll”
- Ao menos não vão ter arrependimentos mais tarde
- Não falta quem faça pose para chamar atenção
- Não sei quantas miudas beijei
- Mas à medida que as horas passam os limites vão sendo ultrapassados entre o exibicionismo e a transgressão
- Festejar é tudo o que conta para nós
- O que conta são os prazeres efémeros.
- Numa sociedade de consumo em ultima análise tudo se consome
- Tudo é descartável também
- Tudo se mostra e tudo se vê... a relação com o facto de se ver e de se mostrar
- A internet é agora de alguma maneira apenas o revelador de algumas obsessões que sempre foram tipicas da adolescência
- Passa horas por dia no computador, é quase como que se tivesse de gerir duas personalidades distintas, a real na escola e em casa e outra virtual
- Tem centenas de amigos com quem nunca se cruzou mas que a acham bonita e simpática.
- Podemos sofrer quando alguém não gosta de nós, mas podemos ficar contentes quando sabemos que somos apreciadas, que toda a gente nos acha simpáticas e tudo mais - mesmo sem saber porquê
- Nem sempre temos confiança em nós, e então tentamos por esta via que os outros nos deem a confiança que não temos
- Os blogues dos adolescentes estão cheios de fotografias, poses ousadas e insinuantes, onde à distancia de um click é possível avaliar cada um apenas pelo exterior
- Superficial? Seguramente - perigoso? Seguramente -, mas será muito diferente dos jogos das gerações anteriores?
- As imagens circulam por toda a rede… as próprias participantes não gostam do que estão a ver
- Eu em relação a mim, a imagem que tenho de mim, não me agrada mesmo
- Todos eles admitem que as imagens deles no video de facto não os orgulha mas entendem que as miudas ainda pior
- Se fosse uma namorada minha não queria que os meus amigos ou familia a vissem assim
- Adolescentes divididos entre o mundo virtual e a sua própria realidade, imagens que os deixam chocados mas que não param de alimentar

Pois é!
Depois de ler isto fica-se com a sensação de que andam a roçar o chocante. É a minha opinião e se me quiserem chamar conservador ou puritano façam o favor. Quando eu era adolescente, não pensava nem agia desta maneira... de todo.
Nas décadas de 70/80, eu e a maioria dos jovens também eramos ávidos por mais liberdade, também faziamos contestações embaladas por acordes e palavras de canções mais arrojadas, também tinhamos sexo, drogas e rock'n roll - mas menos banalizado e imposto por estereotipos tribalistas, também reivindicava-mos melhores condições sociais, mais trabalho (hoje diz-se mais emprego), a abertura política, a igualdade social, o fim da ditadura, maior liberdade de expressão, mais libertação sexual, e porque não – religiosa, e a igualdade de direitos entre os sexos.
Sei que havia uma certa dificuldade para tal pois não havia tantos fornecedores... de drogas e de espaços de devaneio e meios de proliferação, que muita coisa hoje transversal a todos pertencia a uma classe média-alta mais rica, mas a busca sagaz por realizações, por um horizonte mais promissor, pelo futuro, crescia mais saudável e com mais naturalidade em todas as classes. A prova disso, é que muitos apesar de pobres, perseguidos desprovidos até de meios elementares à dignidade humana, hoje são grandes profissionais pelo que lutaram e no que propuseram querer ser. E hoje que querem?
Hoje, tem uma avalanche de ídolos fabricados à medida do seu prazer, devaneios sem regras e às vezes degradantes, e uma clausura inconsciente nas modas, estilos e marcas onde ser diferente é ser excluido e ser irreverente é ser louco. Não é por acaso que os vemos cultivando orgias em publico, a apreciar músicas que incitam um sentimento sem sentido, em raves regadas com demasiado álcool e drogas, sexo puro e duro com desconhecidos, violência e agressões sem fundamento minimamente justificável, e um pandemónio absurdo de outras coisas que por já nem serem eles mesmo de tanto doparem a mente, só chegam a dar conta – os que dão - pelas noticias do dia seguinte.
Pergunto... porque não sei as respostas mesmo...
Quais são as suas inquietações? Quais são os seus objectivos? Quais os anseios que os movem?
Sei que estou a julgar e talvez até a ser preconceituoso, mas só não julga quem não se atreve a ter opinião e não é preconceituoso quem não tem conceitos.
Eu tenho opinião e conceitos e são sustentados no aqui e agora, olhando para o passado e perspectivando o futuro, mas sempre no presente, no observar e no uso de um lado critico sem medos – até de mim mesmo e das minhas culpas na matéria.
E que vejo? Vejo que muita desta juventude está desinteressada, mal preparada e mal habituada a esforços, a lutar por si mesma e até a desconhecer que o sabor da victória também lhes daria prazer. Está essencialmente orientada por terceiros e a formar-se desinformadamente, alinhada por expectativas do passado e que o presente já não proporciona. Amparada por educadores que olham para o filho do vizinho antes de olhar para o seu e não largam a competição que começaram em tenra idade. Pelo suporte em jeito de nada mais poderem fazer senão ir cuidando deles - alguns já bem adultos e até já pais também. Por quem não vê que quem suportam os desampara a si mesmos sem que sequer percebam, preocupem ou se interroguem. Pais aprisionados a ditadores que tem muitos direitos e poucos deveres, que exigem estatuto de adultos ou se consideram crianças conforme os interesses, e muita vergonha escondida em lamentos do tipo - “parece mal ser Doutor e ir trabalhar na estiva” - e que jeito lhes dá pensem assim.
E depois o resultado é ver muitos ligados a uns fios que fornecem uns bits e os tornam alienados e viciados, manipuladores e ao mesmo tempo manipulados, povoadores de charcos onde se afundam numa felicidade precária e habitantes de uma realidade irreal. Alguns outros estão a afundar-se em drogas e assim perdem a identidade humana caindo aos poucos numa triste degradação fisica, moral e mental. E por aí adiante, mas nem é preciso continuar...
E assim se prefere tapar as feridas para que não se veja o sangue, do que as desinfectar e deixar a apanhar ar para que se curem, vive-se a “passar a bola” esperando por remédios de estados que nem para si mesmo tem remédio, apontando o dedo sempre em frente e proclamando indignações, e a aumentar os males sociais em vez de os remediarem e preparar quem os remedeie no futuro.
È assim que vão querer ter reformas no futuro?
Antes de qualquer outra identidade, o seio familiar é o principal responsável e o núcleo fomentador e disseminador da educação - de todos – como tal não pode esconder-se nem fugir dos desafios, inclusivé o de se educarem para poderem educar. É que ao largarem as suas crias mal preparadas no meio desta anarquia comportamental que eles parecem querer e gostar de ter - é fácil escolhê-la -, esquecem-se da sedução que tais ambiente tem nos adolescentes e depois fica dificil fazer vingar obrigações menos prazerosas.
Há que pensar e repensar em tudo, em todos, e onde é que falhamos e continuamos a falhar.
Estão preparados os jovens de hoje para serem pais amanhã – vão querer e/ou poder ser?
Basta espreitar as redes sociais para perguntar... Não está muita gente nos “enta” - muitos são pais - a comportar-se como adolescentes ?
Não estão os idosos a serem esquecidos e desconsiderados de tudo isto?
E finalmente, não só para eles, mas para nós também - para todos nós mesmo -, pergunto se somos vitimas ou culpados?