… é o que desta vez me apetece ser.
Como todos saberemos e mais ou menos informados, a natureza pregou uma partida muito violenta ao “desprevenido” povo do Haiti. Já tinha pregado outra num passado recente, e pela mão deles mesmos, também estavam numa grave crise politica e económica. É muito para um povo só, mas nenhum está livre.
Perante tal, nem todos reagimos da mesma maneira, mas parece-me uníssono o lamento e a solidariedade manifestada das mais diversas formas, instituições e pessoas, alias, o que caracteriza a espécie humana.
No entanto, enquanto uns o fazem da forma mais emocionada, natural e pura, outros deixam perceber intenções mais dubias que vão desde as mais mediaticas ao asqueroso aproveitamento próprio. Seja como for, o que importa mesmo é que há ajudas e que cheguem a quem realmente precisa, mas, como sabemos de outras situações em que tal solidariedade tem lugar, raramente isso acontece.
Desespero pela sobrevivência aparte, aparece sempre gente sem escrúpulos a impedir o melhor sucesso e pelas mais diversas razões obviamente nunca justas e algumas bem gananciosas e desumanas – nem o desepero justifica. E isto revolta-me muito.
Mas, é também de outras situaçãos que quero falar. É que também não sendo novas, conseguem-me revoltar ainda mais e deixar-me de raiva ao rubro. Uma dessas foi ler noticias como estas três do JN de hoje e que deixo no final deste post para facilitar a leitura a quem as quiser ler.
Todas elas tem um denominador comum – Crime/Violência/Terror.
Se já não bastava perceber que tinham líderes politicos indecentes, que ao nem um comunicado fazerem nos primeiros dias pós catástrofe se mostram completamente egoistas e preocupados com o seu umbigo, (nada de novo, pois lá como cá todos sabemos que só lá estão para se servirem a si mesmos), por via do desmoronamento das prisões, andam milhares de criminosos à solta, e que sem um pingo de humanidade, em vez de ajudar quem precisa e quiçá assim se redimirem, aproveitam a situação para continuar aquilo que efectivamente são e sempre serão – escumalha podre e bafienta - que infelizmente toda a sociedade tem.
È aqui que quero chegar.
Num outro post “Repugnante, inqualificável, desumano...” falei da “Lei de Talião”, e num destes artigos, o jornalista Alfredo Leite fala em “É o regresso do olho por olho, dente por dente na sua forma mais cruel”. È a mesma coisa e o principio dessa lei que cada vez mais defendo como necessária ...e antes que qualquer espécie de catástrofe nos atinja.
Que mais é preciso para provar que esta corja toda não tem emenda nem solução que não a aplicação dessa lei?
Por mim acho que mais nada.
Resta-nos fazer como a faz o planeta que nos sustenta. Quando sente pressão, estremece, ruge e range até encontrar novo equilíbrio, estabilidade e conforto. Vamos também estremecer, rugir e ranger este desconforto tanto politico como social, pois mais vale destruir o fraco para reconstruir mais forte, do que suportar falsos e débeis equilíbrios que sabemos desmoronar ao primeiro abanão.
Pensem nisto... mesmo!
Haiti: Sinais de vida num cenário de fome e violência
HELENA NORTE
Contrariando lógica das catástrofes, no Haiti, ainda se encontram sobreviventes sob escombros. A distribuição da ajuda é caótica e geradora de violência, mas a população desenvolve estratégias de sobrevivência. A cônsul honorária portuguesa acolhe 20 pessoas.
Seis dias depois do potentíssimo sismo que quase destruiu completamente a ilha caribenha e quando 60% das áreas mais afectadas já foram rastreadas por equipas de socorro, há vislumbres de vida e esperança. Foram encontradas cerca de 70 pessoas com vida, apesar de as estatísticas vaticinam que, ao fim de 36 horas, as possibilidades de ocorrer resgates com vida são quase nulas. "É um pequeno milagre", declarou Reinhard Riedl, depois de saber que a esposa foi retirada viva dos destroços do Hotel Montana, em Port-au-Prince.
Milagres à parte, o Haiti enfrenta uma tragédia de dimensões apocalípticas. As estimativas quanto ao número de mortos continuam muito díspares: 100 a 200 mil, segundo o Governo; 40 a 50 mil, nos cálculos da Organização Mundial de Saúde e da Cruz Vermelha. Mais de 25 mil cadáveres já foram enterrados em valas comuns e, por toda a ilha, a população queima os seus mortos.
A meio do caos, pequenos sinais dão conta da tentativa de os haitianos se organizarem numa rotina possível. Limpam ruas, improvisam pequenos comércios à beira da estrada, usam máscaras por causa do cheiro nauseabundo da morte e do formol despejado por helicópteros para evitar infecções. O abastecimento de água continua precário, mas as comunicações estão parcialmente restabelecidas e os telemóveis já funcionam.
A cônsul honorária de Portugal, Hidegard Cassis, abriga no quintal da sua empresa, em Petion-ville, 20 pessoas, incluindo os empregados e as suas famílias, a quem fornece comida e água regularmente. "Muitos perderam as casas e os que não perderam têm medo de lá ficar. É difícil comprar comida e água e eles não têm meios para os adquirir", disse Cassis a uma equipa de reportagem brasileira.
A ajuda internacional continua a chegar ao terreno, mas os constantes tumultos durante as operações de distribuição de alimentos obrigaram as agências da ONU e o Governo haitiano a recorrer a fortes contigentes de segurança.
Na gigantesca praça de Champ de Mars, localizada em frente ao esboroado Palácio Presidencial, uma equipa boliviana forneceu quatro mil litros de água. Dez encarregaram-se da distribuição, enquanto 70 asseguravam a segurança e a ordem nas filas.
A assistência está a ser distribuída de forma caótica. As equipas chegam e atiram o que têm aos haitianos esfaimados. Prevalece a lei do mais forte: os mais altos e mais rápidos conseguem arrecadar quase tudo. Para os mais carenciados - idosos, feridos e outras pessoas debilitadas - pouco ou nada resta.
Haiti: Gangues lançam terror em favela
Milhares de criminosos fugiram daprisão e dominam ruas de Cité Soleil
Os criminosos que escaparam da prisão, no dia do terramoto, voltaram a Cité Soleil, a maior favela do Haiti. Fortemente armados, já dominam as ruas e ameaçam tornar-se verdadeiros senhores da guerra. As autoridades são impotentes para fazer valer a lei.
Calcula-se que cerca de três mil criminosos tenham fugido da Penitenciária Nacional. Muitos são oriundos de Cité Soleil e estão a regressar às origens.
Num contexto em que os saques se vulgarizaram e a raiva e o desespero compõem um coquetel explosivo, se a favela se tornar um foco de insurreição e violência, o processo de ajuda à população pode ficar comprometido. Porque exigirá a mobilização de importantes meios para aquela zona, absolutamente vitais para as operações de salvamento e distribuição de bens e cuidados à população.
Os líderes dos gangues de Cité Soleil - incluindo um assassino altamente temido conhecido como "Blade" - são considerados criminosos perigosos, que servem de inspiração para lendas urbanas e populares músicas rap haitianas. Munidos de armas, que devem ter roubadas aos guardas prisionais, estão a espalhar o terror na fragilizada população.
"Fugiram da prisão e agora estão por aí, a roubar", lamentou Elgin St. Louis, de 34 anos, moradora de Cité Soleil, acrescentando que "passaram toda a noite a disparar tiros". "Estamos com muito medo pelo regresso deles", afirmou outro morador, Forrestal Champlain. "Estão armados, não têm moral alguma e podem fazer o que quiserem".
Embora reconheça a situação como preocupante, o comandante da Polícia Nacional, Mario Andresol, garante que está sob controlo. "A minha mensagem a todos os criminosos armados que estão a aproveitar-se da situação é que vamos prendê-los, como já fizemos antes", disse à Reuters.
Caos nas ruas do Haiti: "Ele matou a tiro nós queimámo-lo"
ALFREDO LEITE, enviado a Port-au-Prince, Haiti
Situação caótica nas ruas da capital do Haiti está a degradar-se de dia para dia. A ajuda tarda em chegar e as necessidades já duram há uma semana. Resultado: há pilhagens e os assaltos com morte pagam-se com a fogueira. É o regresso da justiça popular, na sua forma mais brutal.
É o regresso do olho por olho, dente por dente na sua forma mais cruel. "Ele assaltou um comerciante aqui da rua, deu-lhe um tiro na cabeça e matou-o. Nós e outros vizinhos juntámo-nos e queimámos o bandido aqui mesmo". E foi assim porque, para Joseph Alan, "se não há lei nem justiça neste país, nós temos que nos defender".
Joseph não é o único adepto da justiça popular. Já era assim antes do terramoto e agora que as já debilitadas estruturas básicas do país foram simplesmente destruídas a luta pela sobrevivência é feita a qualquer custo.
"Isto vai acontecer mais", disse ao JN um transeunte que olhava a berma onde repousava o corpo ainda fumegante do assaltante.
Uma semana após o terramoto que transformou a cidade num mar de escombros e de morte a ajuda continua a chegar apenas a uma ínfima parte da população. Sem água nem comida, os assaltos multiplicam-se e é cada vez mais difícil circular em segurança nas zonas mais afectadas pelo abalo.
Na Avenida Magloire Amoroise, nas imediações do destruído Palácio Nacional, o separador central foi ocupado por paupérrimas tendas onde os haitianos tentam fazer parar os carros em busca de água ou um pouco de alimento. Sente-se um aumento da tensão. Ninguém dirige a palavra aos jornalistas sem antes pedir comida ou água. Há cartazes improvisados por toda a cidade onde se lê a mesma mensagem: "Temos fome. Queremos comida. Ajudem-nos!"
Não é pois de estranhar que as forças internacionais de paz presentes na capital haitiana e a polícia das Nações Unidas estejam a tomar medias excepcionais de patrulhamento nas ruas onde a esmagadora maioria da população da cidade continua a viver. Já antes do terramoto Port-au-Prince era considerada uma das capitais mais violentas do Mundo. Agora, após o terramoto, estão criadas as condições para tudo piorar. E quanto mais demorar a entrega em massa de alimentos à população faminta pior será.
No sábado dois engenheiros agrónomos da vizinha República Dominicana foram atingidos a tiro quando procediam ao transporte de ajuda alimentar até ao Haiti. Os dois tinham promovido a recolha da ajuda humanitária, mas acabaram baleados e feridos em estado considerado grave, segundo relatam jornalistas dominicanos em Port-au-Prince.