Um assunto em que eu sou tolerante, mas no qual não apresento qualquer hipótese de argumentação é o facto de que as mulheres da minha geração são as melhores e ponto final.
Hoje estão nos quarenta e são belas, mesmo não sendo muito bonitas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabolicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes olhares de ninfas adormecidas ou de gueixas silenciosas ou da afectuosa celulite que percorre cada uma das suas coxas, mas que as fazem tão humanas, tão reais. Formosamente reais.
Quase todas, hoje em dia, ou estão casadas ou divorciadas, ou divorciados e re-casadas com a intenção de não se equivocarem no segundo parceiro, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento.
Mas o que é que isso importa?
Outras, ainda que poucas, mantém um pertinaz celibatarismo e o protegem como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre as suas portas a algum visitante cheio de curiosidade e obviamente lhes seja curiosamente interessante também.
Que belas são as mulheres da minha geração!
Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan, de Lou Reed, e de todos os princípios de géneros musicais que hoje se multiplicam, do melhor cinema com galãs como James Dean, ou deusas como Catherine Deneveux, e do início do boom latino-americano... são seres excepcionais.
Herdeiras de uma revolução sexual que chegou a Portugal somente na década de 70 e das correntes feministas, que entretanto receberam vários filtros, elas souberam combinar liberdade com elegância, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Nunca viram no homem um inimigo, apesar de lhe apontarem vários defeitos e dizerem umas quantas verdades quando estes as enganam, pois compreenderam que o acto da emancipação era algo mais que colocar um homem a esfregar a banheira ou a trocar o rolo de papel higiénico, quando este tragicamente se acaba, e decidiram pactuar connosco para se viver como uma dupla inseparável, essa forma de convivência que tanto se critica, porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.
São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.
Usaram saias aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos, cobriram-se com camisas justas de lã e perderam toda a sua parecença de virgem numa noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar ao som de Rui Veloso, com algum amigo que lhes falou de Kafka, e do tal cinema com aquele agente secreto que continua a existir ainda hoje, muito por causa delas.
No fundo das suas mochilas, muito discretamente havia sempre pacotes de preservativos e todo o sortido contracepcional, livros de Simone de Beauvoir e fitas de promessas e desejos feitos na viagem de finalistas ao Brasil, e ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos, dedicavam-nos aquela canção que nos ia perseguir a vida toda, ao ponto de que quando a ouvimos na rádio ainda vertemos lágrimas.
Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor canções dos Trovante e Mafalda Veiga, conheceram os sítios turísticos, foram com os seus namorados às praias, dormindo em tendas e deixando-se envolver pelos mais desajeitados campistas, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam fazendo na sua formosa e sedutora maturidade.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas. E foi uma sorte termos estas deusas connosco porque afinal também têm fraquezas humanas.
O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro, se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro.
A que recebe um amigo que sofre às quatro da manhã, ainda que seja o seu ex-noivo ou ex-marido, porque são maravilhosas e têm estilo, ainda que quando nos façam sofrer, quando nos enganam ou nos deixam, pois o seu sangue humano não é tão gelado o suficiente para não nos escutar nessa salvadora e última noite, na qual estão dispostas a servir-nos aquela bebida que tão bem esperamos saborear e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia do Santana.
Por isso, para os que nascemos no final da década de 50, na de 60 ou principio da de 70, todos os dias do ano quando acordamos tenhamos ou não uma mulher destas ao lado, delas sentimos cada um dos seus dias, das suas noites e dos seus amanheceres.
Que belas são, meu Deus, as mulheres da minha geração!
Hoje estão nos quarenta e são belas, mesmo não sendo muito bonitas, porém também serenas, compreensivas, sensatas e sobretudo diabolicamente sedutoras, isto, apesar dos seus incipientes olhares de ninfas adormecidas ou de gueixas silenciosas ou da afectuosa celulite que percorre cada uma das suas coxas, mas que as fazem tão humanas, tão reais. Formosamente reais.
Quase todas, hoje em dia, ou estão casadas ou divorciadas, ou divorciados e re-casadas com a intenção de não se equivocarem no segundo parceiro, que às vezes é um modo de acercar-se do terceiro e do quarto intento.
Mas o que é que isso importa?
Outras, ainda que poucas, mantém um pertinaz celibatarismo e o protegem como a uma fortaleza sitiada que, de qualquer modo, de vez em quando abre as suas portas a algum visitante cheio de curiosidade e obviamente lhes seja curiosamente interessante também.
Que belas são as mulheres da minha geração!
Nascidas sob a era de Aquário, com a influência da música dos Beatles, de Bob Dylan, de Lou Reed, e de todos os princípios de géneros musicais que hoje se multiplicam, do melhor cinema com galãs como James Dean, ou deusas como Catherine Deneveux, e do início do boom latino-americano... são seres excepcionais.
Herdeiras de uma revolução sexual que chegou a Portugal somente na década de 70 e das correntes feministas, que entretanto receberam vários filtros, elas souberam combinar liberdade com elegância, emancipação com paixão, reivindicação com sedução.
Nunca viram no homem um inimigo, apesar de lhe apontarem vários defeitos e dizerem umas quantas verdades quando estes as enganam, pois compreenderam que o acto da emancipação era algo mais que colocar um homem a esfregar a banheira ou a trocar o rolo de papel higiénico, quando este tragicamente se acaba, e decidiram pactuar connosco para se viver como uma dupla inseparável, essa forma de convivência que tanto se critica, porém, que com o tempo, resulta ser a única possível, ou a melhor, ao menos neste mundo e nesta vida.
São maravilhosas e têm estilo, mesmo quando nos fazem sofrer, quando nos enganam ou nos deixam.
Usaram saias aos 18 anos, enfeitaram-se com colares andinos, cobriram-se com camisas justas de lã e perderam toda a sua parecença de virgem numa noite louca de sexta-feira ou de sábado, depois de dançar ao som de Rui Veloso, com algum amigo que lhes falou de Kafka, e do tal cinema com aquele agente secreto que continua a existir ainda hoje, muito por causa delas.
No fundo das suas mochilas, muito discretamente havia sempre pacotes de preservativos e todo o sortido contracepcional, livros de Simone de Beauvoir e fitas de promessas e desejos feitos na viagem de finalistas ao Brasil, e ao deixar-nos, quando não havia mais remédio senão deixar-nos, dedicavam-nos aquela canção que nos ia perseguir a vida toda, ao ponto de que quando a ouvimos na rádio ainda vertemos lágrimas.
Falaram com paixão de política e quiseram mudar o mundo, beberam rum cubano e aprenderam de cor canções dos Trovante e Mafalda Veiga, conheceram os sítios turísticos, foram com os seus namorados às praias, dormindo em tendas e deixando-se envolver pelos mais desajeitados campistas, porque adoravam a liberdade e, sobretudo, juraram amar-nos por toda a vida, algo que sem dúvida fizeram e que hoje continuam fazendo na sua formosa e sedutora maturidade.
Souberam ser, apesar da sua beleza, rainhas bem educadas, pouco caprichosas ou egoístas. E foi uma sorte termos estas deusas connosco porque afinal também têm fraquezas humanas.
O tipo de mulher que, quando lhe abrem a porta do carro, se inclina sobre o assento e, por sua vez, abre a do seu acompanhante por dentro.
A que recebe um amigo que sofre às quatro da manhã, ainda que seja o seu ex-noivo ou ex-marido, porque são maravilhosas e têm estilo, ainda que quando nos façam sofrer, quando nos enganam ou nos deixam, pois o seu sangue humano não é tão gelado o suficiente para não nos escutar nessa salvadora e última noite, na qual estão dispostas a servir-nos aquela bebida que tão bem esperamos saborear e a colocar, pela sexta vez, aquela melodia do Santana.
Por isso, para os que nascemos no final da década de 50, na de 60 ou principio da de 70, todos os dias do ano quando acordamos tenhamos ou não uma mulher destas ao lado, delas sentimos cada um dos seus dias, das suas noites e dos seus amanheceres.
Que belas são, meu Deus, as mulheres da minha geração!
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