Tenho feito várias reflexões e análises, tanto sobre o comportamento humano e as relações inter-pessoais, como sobre valores sociais e morais mais ou menos vigentes por estas bandas. E “por estas bandas" não quero dizer pela net – disso já falei muito -, mas sim por/como português e também europeu, e porque os sei diferentes noutras, que não há valores nem moralidades universalmente aceites e nem nós europeus devemos ter a “mania” de sermos os patronos da verdade.
E no meio destas reflexões há uma que mesmo dentro da nossa cultura não obtém consenso, alias, é provavelmente a mais complexa.
E qual é ela?
As relações de “pura” amizade entre sexos opostos – o que quer dizer entre sexos que se atraem.
Realmente até explicar a reflexão é dificil, mas, esquecendo as variantes, na generalidade quero dizer amizade entre homem e mulher sem que haja atracção fisica e sexual.
Há um ditado popular que diz: “a mulher que deves escolher para companheira deve ser aquela que se pareça mais com o teu melhor amigo”, e presumo que tal saber também se aplicará no feminino.
Que quererá isto dizer?
Antes de mais, certamente diz que o lado da amizade é mais forte que o fisico/sexual.
Mas não é isso que na generalidade acontece, nem é essencialmente isso que nos leva a reparar em alguém. È sempre mais o lado fisico que depois desejamos muito aquele corpo tenha uma carinha laroca e muita simpatia, uma mente sadia, culta, emotiva, etc. A questão é que na escolha das amizades, e escolha não é só e apenas um acto consciente, é isso que mais conta.
Ser amigo/a de alguém sisudo/a, feio/a, sem charme e sem bom aspecto, é bem mais dificil... e mais ainda dar sequer a oportunidade.
Mas afinal o que é a real e verdadeira amizade entre os seres?
Será também possível dois seres, física e psiquicamente equilibrados sentirem que são realmente amigos de verdade?
Até que ponto, e seja lá qual for a condição, haverá ou não algum tipo de interesse?
Será que sentimos ser realmente possível poder confiar completamente num amigo?
Eu não tenho respostas pois questiono constantemente estas coisas e também as sei questionadas por muitas outras pessoas.
O ser humano nunca se livrou do seu lado primitivo e onde ainda predominam os instintos, as sensações e os impulsos que tantas vezes esbarram com as moralidades vigentes e os valores e normas socio-comportamentais. O instinto de propagação dos genes é o mais latente, o medo e a capacidade de mentir também e enquanto instintos de sobrevivencia, bem como a necessidade de preservação da intimidade. Todos agimos muitas vezes por questões químicas, biológicas e hormonais, e queiramos ou não, não podemos negar ser parte integrante de uma sociedade que sempre foi e é composta por machos e fêmeas. E sempre se formaram parcerias entre ambos, só que também sempre muito interesseiras e até egoístas.
Será por isso, que deixando de haver qualquer interesse uma amizade ou até mesmo uma relação vinculada acaba?
Que a grande maioria acaba e que raramente temos muitos amigos de verdade, todos sabemos que sim, e muitas delas acabam por grandes e fortes motivos, outras pela soma de muitos pequenos motivos, outras ainda por nada ou apenas por erosão do tempo, e mais caricatamente, outras ainda por até serem "boas" demais.
Sim, disse mesmo “boas demais”. Quem não enjoa a idolatração, bajulação e um “amén” constante?
Então porque aceitamos uma amizade se a sabemos condenada ao fracasso?
Obvio porque uma amizade não se aceita... ou pede – acontece, mas, mais obvio ainda, é que damos sempre um jeitinho para que aconteça “esta” e não “aquela”.
Aqui na Internet, que é um espelho da realidade, mesmo olhando só para as pessoas que dizem estar aqui por/para amizade, porque teem nas suas listas maioritáriamente pessoas do sexo oposto?
Uma amizade com alguém do sexo oposto tem alguma coisa a mais?
Tem sim. É aquilo que negamos quase sempre, a tal atracção fisica e sexual.
Negamos, mas por outro lado, se um homem e uma mulher são amigos, somos capazes de apontar o dedo adivinhador de terem um “caso”.
Todos sabemos que existe uma pressão social perante estes casos e a um homem e a uma mulher juntos até lhes chamamos de um “casal”.
Mas será só a pressão social que provoca a confusão, ou haverá mesmo uma confusão de sentimentos?
As justificações são muitas e muitos os argumentos. Quem leu um dito especialista na matéria “Jonh Gray” diz ser natural a simpatia entre sexos opostos por os homens serem de Marte e as mulheres de Vénus. Outros, mais naturalmente, dizem que a culpa é da atracção que inevitavelmente surge entre um homem e uma mulher – heterossexuais, claro. Enfim, mais real ou surreal e mais ou menos fundamentada, todos teremos uma explicação e seja qual for, acho que a sentença estará sempre dada, mais não seja por terceiros.
Um homem e uma mulher não podem ser só amigos, amigos puros, amigos de verdade e sem terem intimidade fisica e sexual porque ninguém acreditará. E isto é o mesmo que dizer ser proibido o contacto físico entre amigos de sexos opostos.. pois atraem-se. E tal atracção raramente resiste à fronteira que separa o carinho fisico da carícia sexual.
E então, se de comum acordo porque é que dois amigos que se entendem bem em todo o resto não poderão usufruir dessa partilha mais intima?
Pergunta dificil não é?
É que queiramos ou não, a resposta só pode ser esta - se tiverem essa intimidade já não podem ser vistos como amigos. Como disse, chamam-lhes de "casal” e até de “amantes”. Caricato, não?!
No entanto, também há quem defenda que a amizade tem mais a ver com características individuais especiais e factores emocionais, do que propriamente com o género e o aspecto. Que o que aproxima as pessoas é terem muito em comum e muitas partilhas e cumplicidades. Que isso é que proporciona à amizade as particularidades marcantes e faz sentir realmente bem junto do outro e ao ponto de confiar e partilhar as coisas mais íntimas.
Eu só sei que não sei. Acho que tudo o que se possa dizer sobre amizade com alguém do sexo oposto sempre levantará dúvidas.
Nada como dizer que a nossa amiga é como uma irmã, ou o nosso amigo como um irmão... e nada de incestos .
E eis-me aqui partilhado e exposto a nú ...e às vezes crú - mas tal-qual eu, um eterno prisioneiro da minha génese mas sempre em liberdade na essência. A quem apetecer comentar, faça o favor de se sentir livre para o fazer como eu me senti para escrever e acho dever estar quem não teme críticas - sejam elas quais forem. Se apreciar conversar sobre estas ou outras temáticas mas sem futilidades, será um prazer. Sou simples, acessível e gosto de partilhar saberes. Boas leituras.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
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