quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Amizade desinteressada entre sexos opostos S/N?

Tenho feito várias reflexões e análises, tanto sobre o comportamento humano e as relações inter-pessoais, como sobre valores sociais e morais mais ou menos vigentes por estas bandas. E “por estas bandas" não quero dizer pela net – disso já falei muito -, mas sim por/como português e também europeu, e porque os sei diferentes noutras, que não há valores nem moralidades universalmente aceites e nem nós europeus devemos ter a “mania” de sermos os patronos da verdade.
E no meio destas reflexões há uma que mesmo dentro da nossa cultura não obtém consenso, alias, é provavelmente a mais complexa.
E qual é ela?
As relações de “pura” amizade entre sexos opostos – o que quer dizer entre sexos que se atraem.
Realmente até explicar a reflexão é dificil, mas, esquecendo as variantes, na generalidade quero dizer amizade entre homem e mulher sem que haja atracção fisica e sexual.
Há um ditado popular que diz: “a mulher que deves escolher para companheira deve ser aquela que se pareça mais com o teu melhor amigo”, e presumo que tal saber também se aplicará no feminino.
Que quererá isto dizer?
Antes de mais, certamente diz que o lado da amizade é mais forte que o fisico/sexual.
Mas não é isso que na generalidade acontece, nem é essencialmente isso que nos leva a reparar em alguém. È sempre mais o lado fisico que depois desejamos muito aquele corpo tenha uma carinha laroca e muita simpatia, uma mente sadia, culta, emotiva, etc. A questão é que na escolha das amizades, e escolha não é só e apenas um acto consciente, é isso que mais conta.
Ser amigo/a de alguém sisudo/a, feio/a, sem charme e sem bom aspecto, é bem mais dificil... e mais ainda dar sequer a oportunidade.
Mas afinal o que é a real e verdadeira amizade entre os seres?
Será também possível dois seres, física e psiquicamente equilibrados sentirem que são realmente amigos de verdade?
Até que ponto, e seja lá qual for a condição, haverá ou não algum tipo de interesse?
Será que sentimos ser realmente possível poder confiar completamente num amigo?
Eu não tenho respostas pois questiono constantemente estas coisas e também as sei questionadas por muitas outras pessoas.
O ser humano nunca se livrou do seu lado primitivo e onde ainda predominam os instintos, as sensações e os impulsos que tantas vezes esbarram com as moralidades vigentes e os valores e normas socio-comportamentais. O instinto de propagação dos genes é o mais latente, o medo e a capacidade de mentir também e enquanto instintos de sobrevivencia, bem como a necessidade de preservação da intimidade. Todos agimos muitas vezes por questões químicas, biológicas e hormonais, e queiramos ou não, não podemos negar ser parte integrante de uma sociedade que sempre foi e é composta por machos e fêmeas. E sempre se formaram parcerias entre ambos, só que também sempre muito interesseiras e até egoístas.
Será por isso, que deixando de haver qualquer interesse uma amizade ou até mesmo uma relação vinculada acaba?
Que a grande maioria acaba e que raramente temos muitos amigos de verdade, todos sabemos que sim, e muitas delas acabam por grandes e fortes motivos, outras pela soma de muitos pequenos motivos, outras ainda por nada ou apenas por erosão do tempo, e mais caricatamente, outras ainda por até serem "boas" demais.
Sim, disse mesmo “boas demais”. Quem não enjoa a idolatração, bajulação e um “amén” constante?
Então porque aceitamos uma amizade se a sabemos condenada ao fracasso?
Obvio porque uma amizade não se aceita... ou pede – acontece, mas, mais obvio ainda, é que damos sempre um jeitinho para que aconteça “esta” e não “aquela”.
Aqui na Internet, que é um espelho da realidade, mesmo olhando só para as pessoas que dizem estar aqui por/para amizade, porque teem nas suas listas maioritáriamente pessoas do sexo oposto?
Uma amizade com alguém do sexo oposto tem alguma coisa a mais?
Tem sim. É aquilo que negamos quase sempre, a tal atracção fisica e sexual.
Negamos, mas por outro lado, se um homem e uma mulher são amigos, somos capazes de apontar o dedo adivinhador de terem um “caso”.
Todos sabemos que existe uma pressão social perante estes casos e a um homem e a uma mulher juntos até lhes chamamos de um “casal”.
Mas será só a pressão social que provoca a confusão, ou haverá mesmo uma confusão de sentimentos?
As justificações são muitas e muitos os argumentos. Quem leu um dito especialista na matéria “Jonh Gray” diz ser natural a simpatia entre sexos opostos por os homens serem de Marte e as mulheres de Vénus. Outros, mais naturalmente, dizem que a culpa é da atracção que inevitavelmente surge entre um homem e uma mulher – heterossexuais, claro. Enfim, mais real ou surreal e mais ou menos fundamentada, todos teremos uma explicação e seja qual for, acho que a sentença estará sempre dada, mais não seja por terceiros.
Um homem e uma mulher não podem ser só amigos, amigos puros, amigos de verdade e sem terem intimidade fisica e sexual porque ninguém acreditará. E isto é o mesmo que dizer ser proibido o contacto físico entre amigos de sexos opostos.. pois atraem-se. E tal atracção raramente resiste à fronteira que separa o carinho fisico da carícia sexual.
E então, se de comum acordo porque é que dois amigos que se entendem bem em todo o resto não poderão usufruir dessa partilha mais intima?
Pergunta dificil não é?
É que queiramos ou não, a resposta só pode ser esta - se tiverem essa intimidade já não podem ser vistos como amigos. Como disse, chamam-lhes de "casal” e até de “amantes”. Caricato, não?!
No entanto, também há quem defenda que a amizade tem mais a ver com características individuais especiais e factores emocionais, do que propriamente com o género e o aspecto. Que o que aproxima as pessoas é terem muito em comum e muitas partilhas e cumplicidades. Que isso é que proporciona à amizade as particularidades marcantes e faz sentir realmente bem junto do outro e ao ponto de confiar e partilhar as coisas mais íntimas.
Eu só sei que não sei. Acho que tudo o que se possa dizer sobre amizade com alguém do sexo oposto sempre levantará dúvidas.
Nada como dizer que a nossa amiga é como uma irmã, ou o nosso amigo como um irmão... e nada de incestos :).

2 comentários:

  1. Amigo é partilha é dadiva é amor independentemente do sexo. É lamentavel que a sociedade em que vivemos nao partilhe desta opiniao e veja "maldade em tudo". "Cativa-me", disse a raposa ao principe, este deve ser o principio basico da amizade. " Hoje já nao há tempo para conhecer alguem... não existem lojas de amigos... se tu queres um amigo ... cativa"
    Ana Maria

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  2. Concordo com os que defendem "que a amizade tem mais a ver com características individuais especiais e factores emocionais, do que propriamente com o género e o aspecto. Que o que aproxima as pessoas é terem muito em comum e muitas partilhas e cumplicidades. Que isso é que proporciona à amizade as particularidades marcantes e faz sentir realmente bem junto do outro e ao ponto de confiar e partilhar as coisas mais íntimas."
    Quando penso nas minhas amigas, penso que tudo começou por um sorriso, por uma partilha, por conversas íntimas sobre os filhos, maridos... por diferentes perspectivas,por desabafos, por gargalhadas...e com o tempo e o convívio, a amizade vai crescendo, vai solidificando....Porque não acontecer o mesmo com um homem? A intimidade não significa sexo... significa comunhão, partilha, dar e receber...A beleza é principalmente interior. Um homem ou mulher lindos que abrem a boca e não dizem nada, não cativam...põem-me a milhas...e isso acontece-me independentemente do sexo.
    Para mim a amizade é assexual.

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