segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Momento de raiva

Hoje fui almoçar tarde, ainda por cima demorei-me bastante, e o pior é que tenho tanto que fazer. Mas, como vos contarei adiante, foi um almoço diferente e vou ficar aqui a desabafar um pouco. Alias, nem é desabafar ou sequer perder-me, é a necessidade que sinto em ter que fazê-lo.
É certo que ao lerem os meus posts ficarão confusos sobre a minha pessoa. Sei que eles, ora deixam perceber-me como alguém muito de “corpo”, ora muito de “alma”, ora muito cerebral/racional, ora muito espirituoso, ora uma mistura conflituosa e pouco inteligível desta dualidade/multiplicidade, etc, etc.
Este não vai ser diferente nem igual, mas vai ser de raiva, tal tem sido a densidade e intensidade emocional que se tem “entranhado” em mim nestes últimos dias.
Sou péssimo a comentar situações chocantes porque me afectam de um modo tão duro que uma certa raiva e impotência me deixa algo impotente e bloqueado. Normalmente passo por um processo de emoção demasiado forte para conseguir alinhavar palavras com sentido, mas como já estou um pouquinho recuperado e também com sentimento de “mea culpa“, aqui vai.
Como disse, fui almoçar algo tarde. Já é costume, mas hoje ainda mais tarde que o habitual por imperativos profissionais.
Esta semana começou mal e adivinho-a atípica e com afazeres extraordinários. Mas nada de novo, nada a que já não esteja habituado. Só que este desfasamento do habitual fez-me cruzar no restaurante onde habitualmente almoço com um Amigo de longa data e que não via há muito tempo. Foi bom revê-lo, relembrar e entregar-me em “duas de conversa” com aquele ser-humano estupendo e de quem tinha saudades. Só que a conversa trouxe no meio uma situação que há muito me vem fazendo pensar. O egocentrismo galopante, a ganância de meia-duzia de “todo-poderosos” sem escrúpulos e o alheamento de todos nós. E de quê? Dos valores sociais, de respeito, obrigação e solidariedade social a que muito habilmente passamos ao lado com um acenar de lamento mas lavando as mãos como Pilatos, ou pior, fazendo tilintar a moeda de maneira a que tal tilintar nos devolva ao ego ainda mais do que o investido.
E chega de tamanha ganância, egoísmo e hipocrisia.
Voltando ao meu Amigo. Vinha de uma reunião com o poder autárquico onde solicitava apoio para um centro de acolhimento de crianças carentes de todo o tipo - dificientes, abandonadas, esfomeadas, etc. Só que estava furioso. Esta época Natalícia é a mais adequada a fazer uma feirinha com coisas feitas/oferecidas por gente que apoia a instituição, mas desta vez nem o espaço lhe cederam. Como se não chegasse, recusam desde sempre outros apoios de “dinheiros públicos” porque o espaço da instituição não tem a qualidade obrigatória das instalações, nem todos os equipamentos conforme a lei …Como se essas condições “asaeianas” fossem o minimo obrigatório e indispensável para quem em casa tem muito menos, ou não tem nada... ou pior, nem casa tem. E assim se desculpam "abafando" as verbas para proveito de quem afinal? Isso a “Vox Populi” sabe e diz à boca cheia, mas já repararam nas coisas estúpidas que usam como desculpa? Porque raio os nossos “mídia” não colocam sempre uma noticia destas ao lado de uma onde o estado gasta caprichosamente os nossos milhões em “brinquedos e brincadeiras” para si mesmos?
Politiquisses - dirão …mas quais, de que cor e/ou facção? São todos iguais. São todos é "poderes" que descuidadamente vamos permitindo existam e se instalem… nem desconforto lhes causamos (perdoem-me os professores que sem querer opinar e/ou julgar a causa, a estão a defender em força, convictamente e com um espírito de união exemplar).
Depois é esta inércia e egoísmo social. Porque carga de água não nos lembramos que o Estado e toda a gente empurra para terceiros esta responsabilidade? O problema é que nesta questão não há terceiros... os terceiros são os primeiros e os segundos - todos nós ...que em qualquer momento podemos ser vitimas. E porque será que a “dor” disto desaparece na hora de colocar uma cruz de voto, ao dobrar a esquina e perante uma montra “apetitosa“, ao vermos passar o último modelo daquela marca de carros que nos faz sonhar, ou aquela mulher ou homem que nos faz estremecer com tanta sensualidade e charme, ao tolerar um comportamento anti-social ou egoísta tanto de um estranho como de quem nos é próximo e/ou até temos responsabilidades educativas? (não digam que não é convosco pois estes Senhores também tiveram Pais, Mães, Avós, Amigos esmerados e cuidadosos, mas que algo correu mal… correu!)
Também na semana passada ouvi na TSF uma reportagem sobre maus tratos e extorsão a idosos, e fiquei escandalizado. E mais, já sabia disso tudo mas parecia que me tinha esquecido.
Na última sexta também soube de uma história arrepiante de extorsão feita por aqui e de forma “profissional”, de alguém que encenava até ao pormenor as suas performances de sedução, dizendo-se de uma profissão de elite e da qual até usava a farda e frequentava o meio. E não me venham dizer que só cai quem quer, porque sabemos que cai quem ainda mantém a fé no ser humano e acredita em amizade verdadeira e obviamente da qual solidariedade em momentos difíceis faz parte.
E um utilizador deste espaço, de nick “mjoca”, um homem maduro, aparentemente com carácter, idoneidade e com uma imensidão de blogs muito interessantes, mas que faz copy/paste literal dos blogs dos outros, publica-os como seus e até assina com o seu nome e adiciona o “R” de registado. Claro que não menciona a fonte e assim usurpa e engana quem lê fazendo-se parecer ser quem não é. Como se não bastasse, confrontas o dito Sr. com isso e o que faz? Lista Negra e bloqueia-te!. O mau és tu!
E os moderadores disto que nada dizem perante a denúncia, quando tão depressa agem perante outras coisas tão vulgares e comuns neste espaço cibernético, e como se tal acto fosse menos grave em termos de valores e comportamentos sociais do que publicar uma imagem com alguma carga sensual ou erótica (e falo de gente adulta)? Dá que pensar não dá?
E todos estes comportamentos estão a fazer de todos nós autênticos icebergs sentimentais e proprietários de almas duras como aço. E as atitudes quotidianas de falta de respeito pelos outros?
Passa-se à frente sem sequer olhar para quem já lá está, interrompe-se quem está ocupado só porque temos pressa, desrespeitamos compromissos sem tentar fazer qualquer esforço para os cumprir, andamos meia hora à procura de um lugar de estacionamento e se encontramos dois chapamos o carro no meio deles e assim não cabe mais outro, enfim, agimos como se os outros fossem meros objectos ou paisagem.
Também nos equipamentos colectivos ficamos indignados se algo não funciona ou foi maltratado, mas pouco ou nada nos preocupamos para que fique a funcionar. Se está sujo, sujo fica, mas se estivesse limpo usava-mos e limpava-mos, logo, o trabalho seria o mesmo e dava-mos a nossa colaboração… e ensinamento. Quem sabe o próximo aprendia a lição e limpava também? Porque tendemos todos em ser a excepção, o épicentro, o umbigo e raramente parte integrante de um todo que nos envaideça individualmente?
Isto não se pode ensinar? Isto não se deve aprender?
É que nem sempre foi assim. Em tempos idos e de austeridade estes valores tinham mais peso, e, se a fartura dá nisto, abençoada seja a crise então.
Porque estamos a destruir aquilo que as gerações anteriores construiram com dedicação, entusiasmo, trabalho e esforço. Nem todos estavam certos… é certo, mas pior fazemos nós que nem sequer sabemos adoptar o melhor e enjeitar o pior. Embalados num frenezim colectivo e compulsivo baralhamos tudo. Queremos uma sociedade baseada na equidade, na justiça, na igualdade e na inter-dependência, que assegure uma melhor qualidade de vida para todos sem discriminações de nenhum tipo e que reconheça e aceite a diversidade como fundamento para a convivência social. Uma sociedade na qual o respeito à dignidade do ser humano e a condição da pessoa, de todos os seus integrantes, sejam valores fundamentais; que garanta a sua dignidade, os seus direitos, a sua auto-determinação, a sua contribuição na vida comunitária e o pleno acesso aos bens sociais. Mas nada fazemos.
Tanto a sociedade como o estado tem o dever de estarem atentos e fazerem a sua quota parte. É uma dívida social que precisa ser paga …e paga com urgência.
Eu tentei pagar uma pequena prestação dispensando o tempo para partilhar meditar isto convosco. É pouco mas é alguma coisa.

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